Okamotto: “O poder judiciário no Brasil está muito influenciado pela opinião pública”
O ex-presidente do Brasil está há um ano e quatro meses detido na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, em um processo repleto de irregularidades, expostas com as investigações jornalísticas do site The Intercept.
Durante a última semana, o sistema judiciário de Curitiba tentou transferir o ex-presidente para uma cela comum em São Paulo, baseado nos “transtornos” que os manifestantes que acompanham o líder do Partido dos Trabalhadores causam. Finalmente, o Supremo Tribunal Federal suspendeu a decisão e deixou o caminho aberto para questionamentos sobre a parcialidade de Sergio Moro no processo contra Lula da Silva, que deverá ocorrer nos próximos meses.
Neste contexto, o Resumen del Sur conversou com Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, quem analisou a situação no Brasil e criticou o poder judiciário que condenou o ex-mandatário.
Como analisa o que está acontecendo com Lula?
Lamentavelmente, Lula está preso injustamente, produto de uma fraude processual. Lula apresentou provas demonstrando que as acusações são falsas e mentirosas, utilizadas pelo poder judiciário, o juiz e o Ministério Público, que sempre tiveram um preconceito.
Contudo, agora com as investigações do The Intercept, ficou mais claro que Lula sofreu um julgamento injusto, já que, tanto o procurador como o juiz da causa estavam trabalhando em conjunto para condenar o ex-presidente e impedir que se apresentasse como candidato para as eleições presidenciais.
O sistema judiciário brasileiro é diferente dos de outros lugares do mundo porque o juiz que julga também estuda e continua o processo. Isso é complicado porque é ele que ordena e autoriza as detenções temporárias, delações e prisões preventivas, que têm alta repercussão na imprensa. Então, é muito difícil que o juiz de primeira instância aceite que o afastem do processo.
As instâncias superiores deveriam rever isto, mas quando se trata de casos com alta repercussão midiática, somam-se com a opinião pública contra os acusados. Nós nos apoiamos na Constituição e nas mobilizações nas ruas para evitar que se instale uma visão negativa contra Lula. Isso está acontecendo no Brasil. Está cada vez mais claro que a Lava-Jato foi parte de uma manipulação judicial.
O senhor acredita que o Supremo Tribunal Federal debaterá a parcialidade de Sergio Moro no processo contra Lula?
Sim, creio que isto será debatido. Como disse anteriormente, infelizmente o poder judiciário no Brasil está muito influenciado pela opinião pública. Todas as grandes empresas estão contra o Partido dos Trabalhadores e a esquerda, mesmo que pouco a pouco, a cada dia vai demonstrando que houve fraude e isso pode influir no Supremo, e permitir que se demonstre que os governos de esquerda e progressistas são honestos.
A tentativa de transferência de prisão foi uma mensagem de intimidação de Moro e Bolsonaro contra Lula?
Claro. A tentativa de transferência de Lula a uma cela comum é uma provocação para demonstrar o poder de Curitiba e as forças que estiveram por trás da Lava-Jato contra a mobilização popular. O veto do Supremo Tribunal Federal foi uma decisão importante porque é preciso cumprir a Constituição, o Código Penal e a lei. Foi uma vitória importante porque, com todos os casos de corrupção e o papel dos meios de comunicação, a classe política está muito desmoralizada.
Quais são as pretensões de Bolsonaro no governo?
Bolsonaro pretende destruir as políticas públicas desenvolvidas pelo PT e impedir toda possibilidade de que o Estado possa ajudar os mais necessitados, gerar oportunidades e combater a desigualdade social. O que o governo de Bolsonaro pretende é aplicar um modelo neoliberal com a farsa de que, graças a isso, investimentos serão atraídos e empregos gerados.
O governo de Bolsonaro não é um modelo neoliberal comum, mas de extrema-direita.
Conseguiu falar com Lula?
Falei há três dias, conversamos sobre a situação no Brasil, política, econômica, meios de comunicação e a Campanha Lula Livre. Ele está bem, é muito otimista e consciente de que temos que seguir organizando o povo.