Lula: “Bolsonaro ganhou por este estado de espírito de ódio”
No mês de novembro passado, Lula da Silva foi posto em liberdade após passar um ano e sete meses na prisão, condenado por corrupção. No entanto, ele continua defendendo a sua inocência e acusa o sistema judiciário e a imprensa de criar um complô contra ele. Assim afirmou em entrevista ao El Objetivo com Ana Pastor, disponível na íntegra abaixo.
Mas durante o programa não falou apenas de seu encarceramento e da conspiração contra ele, mas também sobre Jair Bolsonaro, a influência das empresas multinacionais no Brasil, o governo de coalizão entre Podemos e PSOE, a independência da Catalunha, Venezuela e Juan Guaidó e sobre os problemas que afetam a sociedade atual, como machismo e mudanças climáticas.
A respeito da condenação por corrupção, destacou que “está provado em todos os autos da minha defesa que houve um conluio entre justiça e imprensa para me condenar”, disse antes de assegurar que continuará lutando para “provar que o juiz Moro, o Ministério Público e a Polícia Federal mentiram”.
Além disso, o ex-mandatário apontou que todos estes atores “inventaram uma farsa para tentar prejudicar a possibilidade do PT continuar governando o Brasil. O juiz Moro não foi um juiz, foi um político com interesses políticos, que decidiu pela minha condenação para me tirar da corrida presidencial de 2018″.
Lula da Silva considera que se o Supremo Tribunal “conhecer os inquéritos do processo” é pouco provável que o condene porque, em sua opinião, “o juiz Moro e o procurador Dallagnol são mentirosos e montaram quase que uma quadrilha para fazer o julgamento do Partido dos Trabalhadores” e desta maneira tirá-lo da campanha eleitoral.
Também sublinhou que lutará para provar que “destruíram as empresas brasileiras em benefício de empresas americanas. Estão destruindo a Petrobras porque fez a maior descoberta de petróleo do século XXI e as petroleiras, sobretudo as americanas, não podem permitir que um país como o Brasil tenha tanto petróleo”.
Bolsonaro e a estratégia do “espírito de ódio”
Jair Bolsonaro ganhou no segundo turno das eleições brasileiras com 55,13% dos votos, algo que para Lula da Silva é consequência da campanha de ‘fake news’ promovida pelo Partido Social Liberal/ PSL: “O objetivo era tentar evitar que o PT continuasse governando e fazendo sua política de inclusão social, a maior da história da democracia no Brasil”.
Além disso, Lula assinalou que “Bolsonaro ganhou por este estado de espírito de ódio. Ódio contra a política, os partidos políticos, o sindicato, a esquerda, os comunistas e os costumes. Nós tivemos aqui a mesma política do Trump nos Estados Unidos, uma enxurrada de ‘fake news’ que eu espero que a Justiça Eleitoral apure para mostrar o que aconteceu de fato neste país”.
O governo de coalizão e a Catalunha
O fundador do Partido dos Trabalhadores falou sobre as suas relações com os líderes e presidentes de outros países, assim como sobre o primeiro governo de coalizão da história da democracia espanhola.
Lula disse ter ficado “feliz” quando Pedro Sánchez e Pablo Iglesias conseguiram selar um acordo e o líder do PSOE tomou posse. Isto porque afirma torcer sempre para “que as coisas deem certo” e espera que “tenham um governo exitoso e o povo espanhol possa recuperar a sua qualidade de vida, seu emprego e sua renda” e “que possa viver muito mais feliz”.
Ao ser perguntado sobre a duração desta coalizão, mostrou-se “otimista” porque ele fundou o PT, “que é composto de muitas tendências internas de pensamentos filosóficos muito diferentes. Assim é que se exerce a democracia, assim são feitas as alianças, devemos dialogar”.
Ademais, o ex-presidente mostrou-se contrário à independência da Catalunha. “É normal que haja uma região mais rica que queira ser independente, mas a Espanha é tão pequena e bonita, não precisava se separar”.
Quanto à independência da Catalunha, assinala que apesar de não estar na Espanha, “nunca viu a parte pobre querendo se separar da parte rica, sempre é a região rica que quer se separar da pobre, não acho uma boa medida”.
A Venezuela e o reconhecimento de Juan Guaidó
A crise vivida pela Venezuela, o reconhecimento de Guaidó como presidente e a intervenção de alguns países no estado latino-americano foram outros temas que protagonizaram a entrevista. O ex-mandatário expressou ser crítico à atuação de alguns países em relação à Venezuela. Considera que devem permitir que o país “encontre o caminho da democracia, da liberdade e que possa voltar a viver em paz” sem que outros intervenham. “A Venezuela tem um problema? Deixe que encontrem uma solução.”
Em relação ao reconhecimento de Juan Guaidó, se perguntou “como pode ser que os Estados Unidos, a Alemanha ou a França”, entre outros, “aceitem um cidadão que não foi eleito. Eu acho que foi um equívoco e um erro histórico o mundo desenvolvido aceitar um cidadão que não foi eleito se autoproclamar presidente”, afirmou.