9 de setembro de 2019
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cerimônia de sua posse como ministro da Casa Civil, em março de 2016. Foto: Lula Marques/ Agência PT

Uma reportagem da série #VazaJato publicada pela Folha de S. Paulo em conjunto com o The Intercept Brasil revelou, ontem (8), que a justificativa utilizada por Sergio Moro ao levantar o sigilo de uma interceptação de conversa telefônica entre Lula da Silva e Dilma Rousseff em 2016 não se sustentava na realidade. E tanto Moro quanto os procuradores de Curitiba sabiam disso.

Trata-se do diálogo em que Lula da Silva aceitou ser ministro da Casa Civil no governo da então presidente Dilma Rousseff, em março de 2016.

Embora outras 22 conversas do líder petista com políticos, jornalistas e sindicalistas monitoradas pela Polícia Federal indicassem que o ex-presidente hesitou em aceitar o convite porque poderia parecer uma tentativa de driblar as investigações da Operação Lava Jato, foi exatamente esta a justificativa usada por Moro para divulgar a conversa com Rousseff.

O ex-presidente havia mencionado a Lava Jato apenas uma vez, para orientar o seu advogado sobre como abordar o assunto com a imprensa: informando que a única mudança no caso seria a de jurisdição.

Moro e os procuradores planejaram a divulgação do áudio em conjunto, mesmo tendo ciência de que o grampo era ilegal. Além da conversa ter ocorrido horas depois de Sergio Moro ordenar a interrupção das escutas, Rousseff não poderia ter sido monitorada sem o conhecimento e anuência do Supremo Tribunal Federal, por contar com foro especial devido ao cargo que ocupava.

Dentre todos os telefonemas interceptados, a conversa com Rousseff foi a única que a Polícia Federal anexou aos autos da investigação sobre o ex-presidente.

O áudio foi divulgado no mesmo dia em que Lula da Silva tomou posse como ministro da Casa Civil. Duas horas depois, a GloboNews noticiou a conversa e leu a transcrição do diálogo entre Lula e a então presidente ao vivo. Imediatamente, manifestações contra o governo ocorreram em todo o país e, dois dias depois, a Suprema Corte anulou a posse.

A cobertura da imprensa e as manifestações foram comemoradas pelos procuradores de Curitiba nos chats do Telegram. “Ótimo dia rs”, escreveu o coordenador da força-tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol em um dos grupos.

As decisões de Moro foram anuladas em junho do mesmo ano pelo ministro da Suprema Corte Teori Zavascki, afirmando que o então juiz usurpara as atribuições do Supremo.

Com informações da Folha de S. Paulo. Leia a íntegra da reportagem aqui.